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Relato de parto semi-domiciliar, por Karoline Saadi

1 abr

“Amor, tu tens que parir um dia, é o melhor barato que existe!!!!” –

– Karoline Saadi, parindo Clarice, em 23 de março de 2015.

Hoje é 1º de abril, mas o que temos a oferecer é um presente muito verdadeiro!!!

Esse relato de parto ‘semi-domiciliar’ fala sobre luta, amor, determinação, o parto sonhado e o parto possível.

Só temos a agradecer a Karol por nos permitir compartilhar o relato dela aqui e as liiindas imagens de seu acervo pessoal – que tudo isso sirva de inspiração pra quem busca um empurrãozinho para ‘o lado do parto do bem’, como diz ela mesma.

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Por Karoline Saadi

Para comemorar a primeira semana de vida da Clarice, o relato do nosso nascimento:

Então em julho ficamos sabendo que traríamos um novo ser para habitar esse mundo.
E no meio ao turbilhão de emoções, uma coisa eu sempre soube: o dia que eu fosse gerar uma nova vida, ela chegaria de forma respeitosa e amorosa.

Muitos e muitos anos trabalhando com gestantes e bebês me fizeram ver muita criança nascendo de cesáreas, e essa era, definitivamente, uma coisa que eu não queria pra mim. Não conseguia assimilar aquele bando de mulher saudável fazendo cirurgia para gestações também saudáveis… Mas e agora??? Eu também tinha conhecimento sobre o sistema obstétrico brasileiro, sobre os médicos cesaristas, sobre a falta de interesse e vontade em seguir com o parto normal sem intervenções, sem pressa, respeitando o tempo da mãe e bebê… e iniciamos a saga: Continue lendo

Parte 2: Meu tão sonhado Parto Domiciliar (nascimento da Giulia) – por Ma Morini

7 nov

E na segunda feira, 15 de setembro, acordamos eu e Pietro, estranhos. 38 semanas e 1 dia de gestação.

Saquei uma energia diferente no ar. Sabia que algo aconteceria e desconfiava muito que poderia parir naquele dia. Nossa rotina básica não se encaixou nesse dia. Estávamos aéreos.

Tinha feito as unhas no sábado, ja pensando que o parto se aproximava. Escolhi um esmalte lilás nas unhas, alias, eu passei quase toda gestação em sintonia com essa cor. Capa da almofada de amamentação, soutien de amamentação, tudo nesse tom. E entrei numa parada de comprar flores pra casa. Cada ida a feira, era um vasinho que eu trazia.

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Aproximadamente as 10 horas, enquanto trocava a fralda do Pi, me movimentei na cama de um jeito que forçou a musculatura da pelve. Nessa hora senti descer alguma coisa. Fui ao banheiro e era um líquido limpido. Pouco liquido. Nesse momento, gelei e deixei o iPad cair, que estava em uma mesinha no banheiro. Trincou a tela e com certeza aquilo foi mais um sinal, eu ia parir aquele dia.

Liguei pra parteira Karina e ela me disse que talvez a bolsa havia se rompido de forma alta. Porque eu perdia liquido numa quantidade muito leve e não saía o tempo todo. Ela pediu que eu a informasse caso surgisse a primeira coliquinha e se tivesse contrações. Ela ainda brincou dizendo que ficava com a pulguinha atrás da orelha comigo, porque o parto do Pietro evoluiu rapidinho, e o da Giu poderia ser mais rápido ainda.

Ao meio dia eu tive a primeira coliquinha, mas não contei pra ninguém.

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As segundas feiras eu costumo levar Pi numa senhorinha pra benzer. E nesse dia não seria diferente. Fomos e minha barriga também foi benzida. Saí de lá super pronta pra parir. Me sentindo iluminada, abençoada, forte.

Umas 14h, avisei a Ka que estava com cólica fraca, contrações idem e que eu estava super de boa. Por precaução, ela pediu a Thaís que viesse me ver.

Passei a tarde vendo Call The Midwife, dando atenção ao Pi e ajeitando umas coisinhas. Fiz mala da maternidade (caso precisasse do plano B), lavei louça, guardei as coisas para o PD em uma gavetona (toalhas e lençóis lavados e passados, absorvente pós parto, calcinha decartavel, lençol descartável, bolsa de água quente, peneira, etc), fiz chá de calêndula com camomila e coloquei em forminhas de gelo (pra usar no períneo no pós parto) e deixei todos os exames da gestação, documentos e plano de parto em um envelope em cima da mesa.

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Aí marido liga. Contar ou não contar que a parteira iria em casa me examinar? Poderia ser só os pródromos e eu ia preocupá-lo a toa. Contei. Mas pedi que ficasse em paz, de boa, que se nascesse, seria a noite.
Até parece que ele ficou de boa. Saiu da empresa e veio pra casa. No meio do caminho me liga, lembrando que estava no rodízio. Haha
Dias depois a multa chega 😒

As 18h Thaís chega e decidimos fazer um exame de toque. No grau baixo de dor que eu estava, achava que estaria com 1cm ou nada. Para minha surpresa, 4cm 😄 É, eu estava em total sintonia com meu corpo. Íamos conhecer nosso bebe muito em breve.

Fui fazer café e deixar coisinhas de comer na mesa, pra mim e pra todo pessoal. Amamentei Pietro. Marido chega. Vou pra bola. Altos papos com a Thais, sobre a filhinha dela, sobre a gestação, sobre o tempo, sobre a vida. Amamento Pietro. Marido infla piscina. Fica ansioso. Eu dou alguns coices no pobre. Peço que ele fique de boa. Ressalto que poderei virar o bicho quando as contrações mais fortes chegar. Amamento Pietro. Dores aumentam um pouquinho. Amamento Pietro. Recebo massagem do marido, enquanto Pi brinca pelado, entrando e saindo da piscina. Ligo pra fotógrafa. Dores aumentam. Karina chega. Lela fotógrafa chega.

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Tudo estava caminhando tranquilamente, mas tem que ter um momento de caos, se não não tem graça.
Pietro acompanhava tudo de perto, se divertiu em encher a piscina, em nadar, em ficar pelado. Ficou a vontade com as meninas e encantado com a maquina fotográfica da Lela. Ele sabia que aquilo tudo era pro nenê nascer. Ele viu muitos videos de nascimento comigo.

Só que aí o menino cansou de esperar. Chegou no limite dele. Estava exausto. Cansado. Querendo a rotina dele, a mamãe com a teteta, deitados na cama, de pijaminha, prontos pra dormir. Só que onde eu estava? Eu estava na piscina, tendo contrações fortíssimas, com dilatação total, na partolândia minha amiga.

Pietro começa a chorar desesperadamente. Renato não consegue, de jeito nenhum, fazer Pietro dormir. Chamei Pi pra ficar comigo na agua, dei peito la dentro e ele chorava e pedia para deitarmos na cama dele. Saí da piscina e amamentei o menino no sofá. Ele fechou o olho, dormiu e logo em seguida me veio uma contração ferrada, no mesmo instante eu desplugo Pi do peito e peço que Renato o chacoalhe. Mas aí Pi acorda e começa todo o desespero novamente.

Volto pra piscina e ordeno que Renato faça o filho dormir. Eu escutava o choro dele, olhava pras meninas, me concentrava, xingava Renato por dentro, por não conseguir acalmar o menino. Escutava Pietro tacando as coisas no chão e sentia a agonia, o desespero e a solidão dele. Eu sentia o mesmo e ficava imaginando como seria cuidar de dois filhos. Ele ainda tão pequeno e tão dependente de mim.

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Mais uma vez eu decido sair da piscina. Discuto com Renato e por fim, deito na cama com Pi. Todos saem de perto e nos deixam a sos. Tenho contrações fortissimas, daquelas que não se encontra mais posição confortavel. Pietro dorme. Desplugo ele do peito com muito cuidado pra tudo não se repetir e consigo. Respiro aliviada por um instante, até outra contração me tomar conta.

Levanto da cama dele e vou pro meu quarto. Nessa hora vejo um sangue bonito escorrer pelas minhas pernas. As meninas ajeitam tudo por lá. Sinto um calor infernal. Marido me abana com um leque salvador. Nesse momento já estou totalmente sem roupas. Nem aí pra aparência, em quem me via ou não. Alias, não consigo me lembrar em que momento tirei os oculos, o Japamala do pescoço, que tanto me deu força, presente especial da amiga Ju 💚. Não me lembro em que momento tirei o top. Total partolandia.

Em minha cama não encontro posição. Como doí, eu tinha me esquecido. A Ka pergunta se quero voltar pra piscina e eu topo. Lá vamos nós outra vez ajeitar tudo na sala. Entro na água. Recebo massagens incríveis da Ka. Ela joga agua na minha barriga tambem. Quanto cuidado. Eu só queria parir logo.

O parto de uma girafa não saía da minha cabeça. Esse parto aqui. Quando conversava não conseguia concluir o raciocínio. Na cabeça passavam muitas coisas. Muitos sentimentos de uma só vez. Não tinha palavras pra aquilo tudo. Ficava mentalizando o bebe passando, o útero se abrindo, tudo se abrindo. Rezava. As vezes minha vontade era ficar com as pernas fechadas. Mas aí me lembrava que precisava me abrir, que para toda aquela dor parar, o bebe tinha que nascer.

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E aí no meio dessa confusão toda de sentimentos e pensamentos, sinto a cabeça do bebê pressionando. Tudo começa a queimar. Solto uns gritos. Digo que tá doendo. Alguém me diz para colocar a mão e sentir a cabecinha. Coloco a mão e como uma criança desapontada, digo chorosa que não sinto ainda a cabeça. Mais uma contração e a vontade de fazer força surge. Na minha cabeça uma confusão entre fazer força ou não, deixar vir naturalmente ou forçar? Escolho fazer força e a cabecinha, finalmente nasce. Escuto o chorinho ❤️

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Com o corpinho ainda dentro de mim, ela já chorava. Anunciando ao mundo sua chegada.
A posição que melhor encontrei foi a de quatro apoios na piscina. Ela nasceu metade dentro, metade fora d’água. As mãos do pai e da Thaís a recepcionaram.

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Como havia pedido, ninguém me contou se era menino ou menina, eu queria ver com meus próprios olhos. O pai ja sabia que era nossa menininha.
Me virei, pulei o cordão umbilical e pude constatar e me emocionar e chorar e finalmente pegar minha pequena no colo. Nossa Giulia. Nome escolhido pelo irmão.

Era terça feira, dia 16 de setembro de 2014. As 00:55h.

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Continua…

Parte 1: Meu tão sonhado Parto Domiciliar (Nascimento da Giulia) – por Ma Morini

16 out

E ela foi concebida na madrugada de reveillon, no primeiro dia do ano de 2014, com muito amor e consciência.

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Que diferença de uma gestação pra outra (a gente compara, não tem jeito). Nessa, já engravidei bem mais magra, embora tenha engordado 20kg em ambas. Minha cabeça era outra, estava muito mais informada, muito mais empoderada, muito mais madura, sábia, atenta ao meu corpo, mais confiante nele e na natureza, mais ativa, serena, com cabelos lindos (do jeito que ele nunca foi), sem inchaços (nem no fim fiquei inchada, isso é um milagre), pele boa e quase nada ansiosa.

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Logo que soube da gravidez já sabia que seria parto domiciliar e não hospitalar, como conto aqui como foi o do Pietro. Sempre falava pro marido que se eu engravidasse, nasceria em casa e ela nasceu 😍
Procuramos um grupo de Apoio a Maternidade Consciente (esses grupos de apoio são essenciais para quem procura um parto normal, natural, humanizado, respeitoso, seja domiciliar ou hospitalar).
Escolhemos a ComMadre, porque sabia que a Ka Trevisan atendia lá e como ela tinha me dado aula no curso de doula, super estava simpatizada.

Passei também em consultas com uma obstetra do meu plano de saúde, escolhi a mais próxima de casa, só para ter as guias dos exames e faze-los pelo convênio (porque não dá pra fazer todos os mil exames de um pré natal pelo particular). Sabemos que é impossível ter um parto natural através dos convênios médicos 😪
NÃO recomendo que façam isso, a não ser que se esteja muito segura de suas escolhas para parir.
Dei sorte em não ter pego uma medica que me indicaria cesárea a todo custo, que me botasse medo e sei lá mais o que. Nunca conversamos sobre os meios de nascimento e isso pra mim foi ótimo, porque não precisei contar que ela não seria minha obstetra na hora do parto. As consultas eram rápidas e ela nunca me fez um exame de toque sequer.
Passei com ela até 35 semanas.

Pietro foi comigo em todas as consultas. Com a parteira, com a GO, nos exames todos e isso foi muito importante pra ele se sentir inserido nesse novo momento e pra entender que em breve teria mais um membro na familia. E também pra ficar a vontade com a parteira, que afinal estaria em casa no momento do nascimento da irmã.

Escolhi não saber o sexo. Queria passar por essa experiência, de só saber se era um menino ou uma menina, na hora do nascimento. Nos relatos que li e que fizeram assim, a emoção era enorme. E foi muito importante pra mim tratar e amar meu filho no ventre, sem rótulos, sem gênero. Apenas amar e aceitar.

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Amamentei Pietro a gestação toda e nunca tive sangramento, nem ameaça de parto prematuro em nenhum instante. Constato que isso é besteira, que pode sim amamentar gestando (se já fazia isso antes, o corpo está acostumado com a carga de ocitocina que recebe).

Optei em não ter doula, por alguns motivos… 1. porque viriam em casa duas parteiras, a Ka e a Thaís Bernardes (elas não são doulas, são parteiras, mas sabia que estaria muito bem amparada), 2. pra economizar grana pra pagar a fotógrafa, 3. porque eu estava muito segura em parir e 4. porque ensinei ao marido algumas massagens, dava pra ele quebrar um galho.

Mas eu SUPER recomendo que tenham uma doula no parto e também no pós parto. Se tivesse mais condições financeiras na época em que a Giu nasceu, eu teria contratado, com certeza.
Pesquisas mostram que o parto em que uma Doula está presente tende a ser mais rápido e necessitar de menos intervenções médicas. Algumas vantagens em se ter uma Doula na hora do parto:

· Diminui o uso do fórceps em 40%
· Diminui insegurança da mãe, ocasionando um maior autocontrole e menos dor
· Reduz o risco da depressão pós-parto
· Sucesso na amamentação
· Maior auto estima da mãe
· Maior satisfação com relação ao parto
· Diminui as taxas de cesárea em 50%
· Diminui a duração do trabalho de parto em 20%
· Diminui o uso da Ocitocina (indução de parto) em 40%
· Diminui os pedidos de anestesia em 60%

…continua

Apenas um relato sobre a ‘dor de parto’

29 set

Cesárea dói.

Engana-se quem pensa que não, quem opta por uma por medo da tão famosa ‘dor do parto’, o normal.

Eu sou Ju Blasina, uma das autoras do blog Andogestando, poeta, bióloga, mãe do Dimi, que nasceu há 2 anos e meio pelo meio cirúrgico, não natural, e estou aqui pra dizer que: dói, cesárea dói e muito.

Dói a ideia de ter seu corpo invadido por instrumentos cirúrgicos, dói quando isso é feito sem qualquer respeito pelas vidas confiadas aos profissionais atuantes. Dói mais quando não é uma escolha e mais ainda quando se questiona pra sempre a necessidade disso. Dói e imagino que doa mesmo quando é comprovadamente necessária — já que isso significa algum problema sério a mudar os planos e roubar o romance do momento pelo qual mais se espera.

Dói também tudo o que vem depois — semanas de movimentos limitados e dor [porque se encher de boletas analgésicas não é a maneira mais adequada de se iniciar na amamentação]. Meses depois e a marca daquele corte que não precisava estar ali dói.

Dói assistir a outros partos, partos lindos, partos que permitem aquele momento sublime em que a mãe abraça seu filho recém-nascido e o recebe com ambos os braços livres e com calor, com todo calor que ele precisa e que ela guardou pra ele — e o põe no colo e oferece o peito e ele aceita ou dorme aconchegado ali, não num berçário, sozinho, por horas e horas e horas… ou dias.

Dói o furto da dor que não se teve — aquela que transforma, mãe e filho, a dor que não requer analgésicos e que termina assim que cumpre seu propósito: o de trazer a vida.

Uma cesárea quando vista de perto e sentida da forma como eu sinto a minha quando fecho os olhos e passo lentamente os dedos sobre a cicatriz profunda que ela deixou em mim… Dói — dói muito e sempre, sempre vai doer.

E só o amor cura...

E só o amor cura…

Relato de Parto Natural/Leboyer

13 set

Por Denise Nappi

Fotos do acervo pessoal de Henry Bugalho e Denise Nappi [e de Phillipe tb]

Fotos do acervo pessoal de Henry Bugalho e Denise Nappi [e de Phillipe tb]

Quando comecei a pesquisar sobre as melhores opções de parto, tanto para mim quanto para o bebê, cheguei a conclusão de que eu queria parto natural, igual nossas bisas, índias e vaquinhas do campo, sem nenhum tipo de interferência médica, porém assistida por um parteira em ambiente hospitalar. Pronto, o plano era esse, então comecei a ouvir: Você está louca! Assim, sem anestesia, sem nada?!? Você não vai aguentar, vai implorar por medicação… blá blá blá.

Pois bem, bebês nascem na semana 40 (praticamente 10 meses), na semana 33 eu quase entrei em trabalho em parto prematuro e por isso tive que segurar o máximo ficando de repouso, estaria liberada na semana 37, assim foi feito…

Segunda feira, 26/08/2013 acordo com uma ligeira cólica, nada que me incomodasse…

Recebi minha doula em casa (uma pessoa que contratei para preparar meu psicológico e aguentar as longas horas de um trabalho de parto). Encontrei umas amigas e tudo parecia normal.

19h:30min da noite vou ao mercado, chegando lá sinto a bolsa estourar, com muita calma entro na fila, comento com a caixa e vou a casa fazer o jantar, eu já sabia que depois de estourar a bolsa, podia demorar ainda muitas horas, muitas dores e blá blá blá, eu saberia a hora certa de ir ao hospital, então fui fazer meu strogonoff, que estava morrendo de vontade.

Entre uma mexida na panela e outra, eu comecei a ter cólicas mais fortes, eu sabia que eram as contrações, mas como pintam como um horror, eu ignorei e pensei: Vou esperar o máximo que puder.

10h da noite fica pronto o jantar e eu não conseguia mais sentar para jantar, fui ao banheiro e… sangue!

Daí foi o bundalelê. PQP, corre que tem sangue! Liguei para a doula Continue lendo

Meu relato de parto – por Ju Blasina

10 jan

NOTA DA MÃE-AUTORA: dois anos depois… E sinto a necessidade de atualizar meu relato de parto – coisa que farei em breve! É como se só agora eu tivesse me distanciado o suficiente para enxergar o quadro inteiro! Continuo achando ele feio… Continuo com minhas cicatrizes, mas agora aprendendo a lidar com elas – e tirar disso um ensinamento que precisa ser registrado. Então, querem ler essa versão limitada do meu relato, please, leve em consideração essa nota, ok? E aguarde a versão mais realista – ao estilo Laura Gutman de quem já tomou um chá com a própria sombra e sobreviveu – melhorada! Bjus


 

Nove meses passados, é chegada a hora… a hora de voltar lá, onde se guarda as mais importantes lembranças, e reviver essa que pode ser definida como ‘a melhor dentre as piores experiências que se pode ter na vida’ – por ser difícil, por ser dolorosa, por ser transformadora de uma forma que é inconcebível até que se esteja imersa nela. Pois bem, vamos lá:

31 março 2012
Passei a gravidez inteira convicta de que teria um parto normal. Li tudo o que podia sobre o assunto, convenci meu médico – que preferia a segurança da hora marcada de uma cesárea – e tranquilizei minha mãe – que tem traumas do parto que ela ‘sofreu’ para o meu nascimento. Pois eu queria tanto, tanto um Parto Normal que nem cogitei a cesárea – eis meu erro…

A gente tem que estar preparado pra tudo nessa vida!

Minha bolsa estourou cedo, cedo demais em todos os sentidos: eu estava com 36 semanas e 5 dias de gravidez e foi 5 min faltando para as 4 da manhã. Era um sábado e eu tinha trabalhado até as 21h daquela sexta – só pretendia sair de licença daí a duas semanas, afinal, eu tinha tempo… Nem minha bolsa [a das coisas secas] tava terminada, só a do bebê. Como acontece com a maioria das mães de primeira viagem, levantei da cama num pulo [tão ágil quanto meu barrigão gigantesco permitia] achando que tinha vazado xixi [o que não andava acontecendo, ok!? eu juro!] e escorreguei no líquido melecoso amniótico – quase caí.  Tremia que nem vara verde. Liguei para o meu médico e ele marcou comigo no hospital 6h depois, a menos que antes eu tivesse dor. Não tive!

Passei a madrugada antes do Dimi nascer mega zen, terminei a minha bolsa no improviso, tomei uns 10 banhos, sequei o cabelo no secador, me depilei, me maquiei [sim, como não!?]. Esperei amanhecer para avisar minha mãe, afinal, eu tava bem, não queria apavorar ninguém. Ela me buscou perto das 9h – e a água vazaaando- e ainda passamos no banco e na loja em que eu tinha encomendado a banheira – que não chegou a tempo! [impagável a cara da atendente da loja, quando eu disse a ela que, então, teria que comprar em outro lugar, já que eu estava a caminho do hospital para… parir! hehehe]. Naquela última noite, ao contrário do que é indicado, eu não dormi – a ansiedade era grande demais pra isso – curti muito os últimos momentos com o bebê do lado de dentro [só meu!] e dancei com a barriga… Dancei ouvindo The Black Keys. Dancei cantando Marisa Monte [“vem, ‘pr’esse mundo’, deus quer nascer – há algo invisível e encantado entre eu e você…”]. Dancei muito! Aí, qdo cheguei ‘lá’ [no hospital, na hora da verdade], toda faceirinha, e meu doc disse que teria que ser cesárea mesmo, e ‘pra já’, chorei mto… e dancei de vez!

Dois dias antes do 'showtime'

Dois dias antes do ‘showtime’

Passadas 6h perdendo líquido e, nenhum sinal de trabalho de parto: nada de dilatação, nenhuma contração, nada além de água, muita água melequenta e morninha – o bebê poderia entrar em sofrimento. Eu entendi – não tinha escolha. E então, eu chorei, chorei muito… Chorei tudo que eu não tinha chorado no primeiro ultrassom ou quando eu soube o sexo do bebê. Chorei enquanto me despia para encarar aquela ‘camisola’ horrorosa – e tudo o que vem com ela. Menos de 20 min desde que pus minha barriga no hospital, e lá estava eu, sozinha naquela porcaria de sala fria – ser moderninha-e-independente’ nessas horas é uma merda – fiquei nervosa, tive medo e me senti muito sozinha. Senti falta de uma mão que segurasse a minha, de um carinho qualquer, senti falta da minha mãe – mas ela estava cuidando de toda a burocracia para que eu pudesse logo ‘entrar na faca’ e, mesmo que não tivesse, ela já estava suficientemente nervosa do lado de fora – dentro da sala, nem eu queria estar!

Só uma enfermeira, entre as tantas ‘cabeças de paninho’ que eu estava pagando para que cuidassem bem de mim e do bebê, só uma foi um amor e conversou comigo, enquanto eu surtava de completo pavor, imaginando que a anestesia fosse acabar antes do esperado – jamais vou esquecer dela me dizendo que tinha passado por isso três vezes, deitada naquela mesa, e que, honestamente, não seria bom, seria estranho e assustador, que eu sentiria muitas coisas, mas que dor não seria uma delas! Ela me prometeu isso – e ‘cumpriu’ – ela fez toda a diferença! Para os outros, eu era uma coisa – mais uma dentre as tantas ‘coisas’ que eles abrem e tiram coisinhas de dentro, a todo momento. Lembro bem o assunto que rolava entre eles: facebook. Se pelo menos me adicionassem na conversa, eu talvez tivesse curtido.

Odiei fazer cesárea, odiei com todas as minhas forças aquela mesa em que parecem que estão sovando pão ou batendo roupa dentro da gente! O depois então… nem se fala [dor, dor, muita dor – de cabeça, na barriga… Inchaço de não calçar sapatos – pior que em toda a gravidez – e hematomas pra todo o lado, graças a mil injeções e soro e a violência que é todo esse processo], mas… o que se há de fazer? No meu caso, não foi uma escolha, e como se diz por aí, “tem males que vem pra bem”: Dimi enrolado na anaconda que era o meu cordão umbilical, se o parto fosse Normal, como eu tanto queria, sabe-se lá como seria… Assim que meu filhotinho deu seu primeiro choro, o médico disse “foi deus quem estourou essa tua bolsa, guria!” e a equipe toda soltou interjeições: eram cinco circulares de cordão, CINCO!!! O “bacana” é que eu fiz 11 ecografias durante o pré-natal, mas nenhuma 3D [uma vez que tudo parecia perfeitamente bem], e não se fazia a menor ideia disso!

Dimitri ao nascer, com seus míseros 47,5cm e 2670g

Dimitri ao nascer, com seus míseros 47,5cm e 2670g

Pior que tudo isso foi, depois de todo aquele tempo num só corpo, ter o bebê arrancado [o sentimento é esse] e levado pra longe: primeiro, para uma bancada fria na qual fuçam nele e nada dizem – e ele berrava e eu fazia perguntas ao vento [e chorava, chorava muito], ah, não fosse a anestesia tão  eficiente… Depois, a sala de recuperação, onde pessoas gemem, outras roncam e o reencontro com o bebê depende de se ‘poder com as próprias pernas’ [e as minhas custaram tanto a recuperar os sentidos que, horas depois, fui para o quarto ainda ‘sem elas’ e assim fiquei até anoitecer – só que junto ao bebê, o que melhora tudo ;]

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Resumindo: confirmei na pele o que eu sempre disse: se o corpo fosse feito para ser aberto, viria com zíper! Fora isso, foi um susto, tudo saiu fora do planejado, mas foi também a coisa mais maravilhosa do mundo ver aquele rostinho, tão pequeno e ao mesmo tempo tão forte, pela primeira vez!

Uma amiga minha que teve um bebezão de P.Normal me diz que se sentiu muito bicho durante o parto dela, pois eu me senti muito coisa no meu – é de se entender as mulheres que se tornam mais duras depois da maternidade – é o trauma do parto. É de se entender mais ainda a Depressão Pós-Parto – é um alívio que não atinja 100% dos casos.

Dias depois, eu olhava para o meu passarinho [porque o Dimi  era tão magrelo que parecia que ia quebrar] e dizia pra ele ‘tu tens que ficar muito bem e muito lindo pra que tudo isso compense, hein” – e ele ficou ;]

Num 31 de março de 2012: Dimi

Num 31 de março de 2012: Dimi

Que difícil falar dessas coisas… Nossa!

Obrigada por ter lido – é bom ter companhia dessa vez ;]

Bjus mil

JuB.

 

P.S.: uma lembrança [ainda mais] bizarra: Continue lendo

Meu relato de parto hospitalar (nascimento do Pietro) – por Ma Morini

7 jan

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Estava prestes a completar 39 semanas de gestação e estava tudo nos conformes. Não havia sentido nenhuma dor até aquele momento e em minha cabeça prevalecia a ideia de que por ser o primeiro parto, provavelmente passaria das 40 semanas e tudo seria extremamente demorado e muito sofrido.

Mas foi as 21h:15min desse mesmo dia, em que achava que estava tudo nos conformes, que senti a primeira coliquinha. E a partir daí foi dada a largada.

A dor aparecia de vez em quando e começou a aumentar. Deu meia noite, uma da manhã, tentei dormir mas não conseguia. Juntou as dores que não paravam de chegar, junto da ansiedade. Decidi pegar papel e caneta para anotar o tempo entre as contrações (hoje sei que anotar contrações, é pura besteira, só confunde mais ainda nossa cabeça, pelo menos a minha), já que não dormia mesmo. Perto de duas da manhã fui fazer xixi e tinha um pouco de sangue. Entrei em choque, a última coisa que esperava ver era sangue. Chamei minha mãe e mostrei. Ela disse ser normal e que poderia sair mais. E foi o que aconteceu. As duas e quarenta da madrugada saiu o tampão e mais sangue e mais dor. Muita dor.

E nesse dia matei minha curiosidade de saber como era essa dor, essa tal dor de parto. É total entrega. Você fica a mercê da dor. Ela te domina. É mesmo um encontro com nosso lado mais obscuro. E o melhor de tudo, é a prova do quão forte é um ser humano, do quanto ele pode suportar.

E segui com as dores, mudava de posição, levantava, plantava bananeira e nada de melhorar. Vi que não adiantava fazer nada, quando a dor vinha era melhor fechar os olhos, agüentar firme e esperar que ela passasse.

Perto de três e pouco da madrugada veio uma dor estonteante, seguida de câimbra na barriga, sensação de Pietro estar empurrando e muita vontade de vomitar. Saí correndo pro banheiro e vomitei tudo o que não havia vomitado na gestação toda. Foi uma dor terrível. E foi nessa hora que decidi que não aguentaria mais (cheguei até a implorar por uma cesárea). Era hora de ir para o hospital.
Mal sabia eu que a dilatação já era de 9 cm e que logo mais meu filho nasceria. Juro que se tivesse uma doula e uma obstetriz ali comigo naquele quarto (e tinha, a minhã mãe, que entende de parto, mais que isso, entende de nascimento, de vida, de amor, mas naquela hora, ela estava mais nervosa do que eu), tudo seria melhor. Seria tudo extremamente melhor. Eu tenho certeza que se assim o fosse, eu saberia se estava em trabalho de parto ou não, saberia o que aconteceria logo em seguida e eu poderia ter tomado o banho que muito implorei, antes de seguir para o hospital, mas me disseram não, porque tinham medo do bebê nascer no chuveiro.
E assim seguimos para o hospital. Lembro que a noite estava fresca e tinha uma lua enorme no céu. Fiz algumas preces e segui caminhando até o quarto. Vesti aquela camisola nada empolgante e logo em seguida o médico chegou para fazer o tal exame de toque e constatou que eu estava quase parindo. Me colocaram em uma maca, levaram para a sala de parto, lembro que a trepidação do chão era confortante, aliviava as dores.
Sorrisinho entre uma contração e outra
E eu poderia encerrar aqui, dizendo que meu filho nascera de parto NORMAL e que tudo foi lindo.
Mas, analisando os fatos hoje em dia (pouco mais de nove meses depois de parir), vejo que meu parto foi sim, muito lindo. Mas o considero como um parto VAGINAL e não normal, muito menos natural (meu sonho para o próximo filho).
Vaginal, porque sofri algumas intervenções, como a analgesia (que na hora em que a recebi, agradeci imensamente ao médico por ter acabado com aquelas terríveis dores, mas a posição em que ficamos para receber a anestesia é ruim demais, a gente precisa ficar sentada, completamente imóvel e parece que o bebe, que já estava meio caminho andado, entra para dentro. Sem contar, que dias depois do parto, uma dor de cabeça medonha me tomou conta. Imaginem, uma mãe tendo que cuidar de um RN, com uma dor horripilante de cabeça, devido a anestesia, não dá), a ocitocina artificial na veia (em meus humildes conhecimentos, entendo que a ocitocina artificial serve para induzir o parto e fazer com que a mãe não perca as “forças” na hora de empurrar, e eu estava com 9 cm de dilatação antes de recebê-la na veia e depois da anestesia, perdi completamente as “forças”, aliás, fazia força, mas não sabia se estava fazendo direito, não sentia p* nenhuma. Então, pra que tomar esse treco nesse caso, minha gente?), rompimento artificial da bolsa, episiotomia e corte do cordão umbilical sem esperar que todo o sangue chegue ao RN.
Sem contar, que é horrível não ver/saber o que os médicos estão fazendo ‘lá embaixo’. Eu toparia um espelho de boa, queria ver tudo, gosto de saber das coisas, ainda mais das minhas coisas. E muito triste, é a hora em que levam o bebê para pesar, medir e sei lá mais o quê. Porque tudo tão longe da mãe? Eu só queria meu filho junto de mim, o tempo todo. É pedir muito?
E nesse momento, costuravam minha episio, e o efeito da anestesia ia se acabando. Que frio foi aquele que me tomou conta? Precisei de cobertores. Detalhe, que era um dia terrivelmente quente.
E me colocaram nos braços da mamãe
Enfim, tudo foi do jeito que tinha de ser e mesmo com todas essas intervenções, tive direito a acompanhantes (minha mãe e uma amiga enfermeira. O pai do Pi estava a caminho do hospital, mas não conseguiu chegar a tempo), não subiram em cima da minha barriga (Kristeller), não me chamaram de ‘mãezinha’ e Pietro veio para meu colo segundos depois de nascido e eu pude ficar por um bom tempo segurando-o, olhando suas mãozinhas, seus minúsculos pés e dedinhos.
Jamais vou esquecer daquele dia, sete de março de 2012, daquela madrugada, eram 04h:45min, daquele pedacinho meu de apenas 50cm, daquele chorinho meigo e de toda aquela fragilidade. Chorei, chorei muito e agradeci alto por ele ter vindo tão perfeito.
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E todo mundo (toda mãe) sabe que não acaba por aí, né? Tem aquele próximo passo, aquele momento intenso, complicado e  de total entrega que é a amamentação.
Onde é que estava meu leite, pelamordedeus? O menino sugava sugava sugava e nada.
Ninguém me contou sobre um monte de coisa, em relação a amamentação. Mas isso é assunto para um próximo post.
Não... mamãe ainda não tinha leite
PS: Hoje, meu Pietro completa 10 meses. S2
Beijos,
Ma Morini