E na segunda feira, 15 de setembro, acordamos eu e Pietro, estranhos. 38 semanas e 1 dia de gestação.
Saquei uma energia diferente no ar. Sabia que algo aconteceria e desconfiava muito que poderia parir naquele dia. Nossa rotina básica não se encaixou nesse dia. Estávamos aéreos.
Tinha feito as unhas no sábado, ja pensando que o parto se aproximava. Escolhi um esmalte lilás nas unhas, alias, eu passei quase toda gestação em sintonia com essa cor. Capa da almofada de amamentação, soutien de amamentação, tudo nesse tom. E entrei numa parada de comprar flores pra casa. Cada ida a feira, era um vasinho que eu trazia.
Aproximadamente as 10 horas, enquanto trocava a fralda do Pi, me movimentei na cama de um jeito que forçou a musculatura da pelve. Nessa hora senti descer alguma coisa. Fui ao banheiro e era um líquido limpido. Pouco liquido. Nesse momento, gelei e deixei o iPad cair, que estava em uma mesinha no banheiro. Trincou a tela e com certeza aquilo foi mais um sinal, eu ia parir aquele dia.
Liguei pra parteira Karina e ela me disse que talvez a bolsa havia se rompido de forma alta. Porque eu perdia liquido numa quantidade muito leve e não saía o tempo todo. Ela pediu que eu a informasse caso surgisse a primeira coliquinha e se tivesse contrações. Ela ainda brincou dizendo que ficava com a pulguinha atrás da orelha comigo, porque o parto do Pietro evoluiu rapidinho, e o da Giu poderia ser mais rápido ainda.
Ao meio dia eu tive a primeira coliquinha, mas não contei pra ninguém.
As segundas feiras eu costumo levar Pi numa senhorinha pra benzer. E nesse dia não seria diferente. Fomos e minha barriga também foi benzida. Saí de lá super pronta pra parir. Me sentindo iluminada, abençoada, forte.
Umas 14h, avisei a Ka que estava com cólica fraca, contrações idem e que eu estava super de boa. Por precaução, ela pediu a Thaís que viesse me ver.
Passei a tarde vendo Call The Midwife, dando atenção ao Pi e ajeitando umas coisinhas. Fiz mala da maternidade (caso precisasse do plano B), lavei louça, guardei as coisas para o PD em uma gavetona (toalhas e lençóis lavados e passados, absorvente pós parto, calcinha decartavel, lençol descartável, bolsa de água quente, peneira, etc), fiz chá de calêndula com camomila e coloquei em forminhas de gelo (pra usar no períneo no pós parto) e deixei todos os exames da gestação, documentos e plano de parto em um envelope em cima da mesa.
Aí marido liga. Contar ou não contar que a parteira iria em casa me examinar? Poderia ser só os pródromos e eu ia preocupá-lo a toa. Contei. Mas pedi que ficasse em paz, de boa, que se nascesse, seria a noite.
Até parece que ele ficou de boa. Saiu da empresa e veio pra casa. No meio do caminho me liga, lembrando que estava no rodízio. Haha
Dias depois a multa chega 😒
As 18h Thaís chega e decidimos fazer um exame de toque. No grau baixo de dor que eu estava, achava que estaria com 1cm ou nada. Para minha surpresa, 4cm 😄 É, eu estava em total sintonia com meu corpo. Íamos conhecer nosso bebe muito em breve.
Fui fazer café e deixar coisinhas de comer na mesa, pra mim e pra todo pessoal. Amamentei Pietro. Marido chega. Vou pra bola. Altos papos com a Thais, sobre a filhinha dela, sobre a gestação, sobre o tempo, sobre a vida. Amamento Pietro. Marido infla piscina. Fica ansioso. Eu dou alguns coices no pobre. Peço que ele fique de boa. Ressalto que poderei virar o bicho quando as contrações mais fortes chegar. Amamento Pietro. Dores aumentam um pouquinho. Amamento Pietro. Recebo massagem do marido, enquanto Pi brinca pelado, entrando e saindo da piscina. Ligo pra fotógrafa. Dores aumentam. Karina chega. Lela fotógrafa chega.
Tudo estava caminhando tranquilamente, mas tem que ter um momento de caos, se não não tem graça.
Pietro acompanhava tudo de perto, se divertiu em encher a piscina, em nadar, em ficar pelado. Ficou a vontade com as meninas e encantado com a maquina fotográfica da Lela. Ele sabia que aquilo tudo era pro nenê nascer. Ele viu muitos videos de nascimento comigo.
Só que aí o menino cansou de esperar. Chegou no limite dele. Estava exausto. Cansado. Querendo a rotina dele, a mamãe com a teteta, deitados na cama, de pijaminha, prontos pra dormir. Só que onde eu estava? Eu estava na piscina, tendo contrações fortíssimas, com dilatação total, na partolândia minha amiga.
Pietro começa a chorar desesperadamente. Renato não consegue, de jeito nenhum, fazer Pietro dormir. Chamei Pi pra ficar comigo na agua, dei peito la dentro e ele chorava e pedia para deitarmos na cama dele. Saí da piscina e amamentei o menino no sofá. Ele fechou o olho, dormiu e logo em seguida me veio uma contração ferrada, no mesmo instante eu desplugo Pi do peito e peço que Renato o chacoalhe. Mas aí Pi acorda e começa todo o desespero novamente.
Volto pra piscina e ordeno que Renato faça o filho dormir. Eu escutava o choro dele, olhava pras meninas, me concentrava, xingava Renato por dentro, por não conseguir acalmar o menino. Escutava Pietro tacando as coisas no chão e sentia a agonia, o desespero e a solidão dele. Eu sentia o mesmo e ficava imaginando como seria cuidar de dois filhos. Ele ainda tão pequeno e tão dependente de mim.
Mais uma vez eu decido sair da piscina. Discuto com Renato e por fim, deito na cama com Pi. Todos saem de perto e nos deixam a sos. Tenho contrações fortissimas, daquelas que não se encontra mais posição confortavel. Pietro dorme. Desplugo ele do peito com muito cuidado pra tudo não se repetir e consigo. Respiro aliviada por um instante, até outra contração me tomar conta.
Levanto da cama dele e vou pro meu quarto. Nessa hora vejo um sangue bonito escorrer pelas minhas pernas. As meninas ajeitam tudo por lá. Sinto um calor infernal. Marido me abana com um leque salvador. Nesse momento já estou totalmente sem roupas. Nem aí pra aparência, em quem me via ou não. Alias, não consigo me lembrar em que momento tirei os oculos, o Japamala do pescoço, que tanto me deu força, presente especial da amiga Ju 💚. Não me lembro em que momento tirei o top. Total partolandia.
Em minha cama não encontro posição. Como doí, eu tinha me esquecido. A Ka pergunta se quero voltar pra piscina e eu topo. Lá vamos nós outra vez ajeitar tudo na sala. Entro na água. Recebo massagens incríveis da Ka. Ela joga agua na minha barriga tambem. Quanto cuidado. Eu só queria parir logo.
O parto de uma girafa não saía da minha cabeça. Esse parto aqui. Quando conversava não conseguia concluir o raciocínio. Na cabeça passavam muitas coisas. Muitos sentimentos de uma só vez. Não tinha palavras pra aquilo tudo. Ficava mentalizando o bebe passando, o útero se abrindo, tudo se abrindo. Rezava. As vezes minha vontade era ficar com as pernas fechadas. Mas aí me lembrava que precisava me abrir, que para toda aquela dor parar, o bebe tinha que nascer.
E aí no meio dessa confusão toda de sentimentos e pensamentos, sinto a cabeça do bebê pressionando. Tudo começa a queimar. Solto uns gritos. Digo que tá doendo. Alguém me diz para colocar a mão e sentir a cabecinha. Coloco a mão e como uma criança desapontada, digo chorosa que não sinto ainda a cabeça. Mais uma contração e a vontade de fazer força surge. Na minha cabeça uma confusão entre fazer força ou não, deixar vir naturalmente ou forçar? Escolho fazer força e a cabecinha, finalmente nasce. Escuto o chorinho ❤️
Com o corpinho ainda dentro de mim, ela já chorava. Anunciando ao mundo sua chegada.
A posição que melhor encontrei foi a de quatro apoios na piscina. Ela nasceu metade dentro, metade fora d’água. As mãos do pai e da Thaís a recepcionaram.
Como havia pedido, ninguém me contou se era menino ou menina, eu queria ver com meus próprios olhos. O pai ja sabia que era nossa menininha.
Me virei, pulei o cordão umbilical e pude constatar e me emocionar e chorar e finalmente pegar minha pequena no colo. Nossa Giulia. Nome escolhido pelo irmão.
Era terça feira, dia 16 de setembro de 2014. As 00:55h.
Continua…
Tags:Amor Multiplicado, Ando Gestando, Doula, Filhos, gestação, Gestar, gravidez, Parir, Parteira, Parto, Parto Domiciliar, Parto Humanizado, Parto na Piscina, Parto Respeitoso, Pré Natal, Relato de parto, Segundinho